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Bate-papo com Ana Clara Fischer

É com grande prazer que apresentamos uma entrevista exclusiva com a atriz Ana Clara Fischer, uma talentosa artista da agência de atores Emplacar Você, em nosso blog. Vamos descobrir mais sobre sua jornada, suas inspirações e o que o motiva a continuar brilhando nos palcos e nas telas. Nesta entrevista, ela compartilha suas experiências e desafios.

Conte um pouco de você. O que gosta de fazer quando não está atuando?

Além de ser atriz, eu sou cantora, e o universo das artes é o meu universo favorito, é nele que eu transito a maior parte do tempo. E estudar, aprender, me dá um prazer imenso. Esse ano eu comecei a ter aulas de violão, voltei a estudar piano, devagar, sozinha, e estou fazendo aulas de danças brasileiras, também. 

Além disso, eu vou muito ao cinema, ao teatro, a shows; gosto de passear pela cidade, visitar museus e espaços que eu ainda não conhecia. Leio, estudo idiomas – que é outra área em que eu transito bastante -, e pesquiso repertório musical. 

De uns tempos pra cá, tenho também tomado gosto por ouvir alguns podcasts – principalmente ligados à literatura, psicologia e notícias. Não sou uma grande fã de academia, mas gosto de mexer o corpo, de caminhar e de dançar. Faço pilates e curto bastante. Fora isso, todas a coisas ordinárias preenchem meu tempo: passear com minhas cachorras todos os dias, cuidar das plantas, da casa, e por aí vai.

Como aconteceu o teatro na sua vida? Como e quando começa sua história com a arte?

Eu sempre quis ser atriz, desde muito pequena, desde que eu me lembro. Não sei bem de onde surgiu o desejo, mas o ambiente em que eu vivia com certeza foi bem favorável a que ele tomasse forma. Tive o privilégio de nascer em uma casa em que a arte era parte do nosso dia-a-dia. Meu pai é músico, um dos meus tios é músico e ator, a gente ouvia muita música em casa, conversava sobre música, ia a shows. 

Meu pai tinha um grupo vocal, eles iam lá em casa ensaiar de vez em quando, eu acompanhava os ensaios e as apresentações. Nessa época a gente morava em Campo Grande, pra onde eu me mudei muito pequena. Depois a gente se mudou pra Curitiba, e um programa muito comum era ir ao Teatro Guaíra ver as óperas, os concertos da orquestra de domingo de manhã, e os espetáculos de dança. Enfim, eu era muito estimulada e levada à vivência artística. E tinha o lance da leitura, também. Eu comecei a ler e a gostar de ler muito cedo, e era também muito incentivada a isso.

Eu fiz meu primeiro curso de teatro aos 11 anos, mas antes disso eu já sabia que ia ser atriz. Talvez tivesse uma influência das novelas, não me lembro. Mas a referência mais antiga de que me recordo, é de quando meu pai foi ver a Marília Pêra fazendo Dalva de Oliveira no teatro e trouxe pra casa o programa da peça e uma fita K7 – eu tinha uns 9, 10 anos, talvez, e aquela figura da intérprete, que era atriz e cantora, que cantava aquelas canções antigas de que eu já gostava, me impactou.

O que mudou na sua vida e rotina quando decidiu viver deste universo? Precisou abrir mão ou interromper alguma coisa?

Ao contrário: a decisão de viver disso veio muito cedo – e se renovou diversas vezes e segue se renovando – , mas eu sempre precisei abrir mão da exclusividade da carreira artística, e exercer outras atividades paralelamente para conseguir viver e até mesmo para sustentar a possibilidade de seguir atuando e cantando.

 No entanto, hoje eu estou mais em paz com isso, entendendo que minhas carreiras paralelas são uma característica minha e que são parte da minha expansão, do meu aprendizado, e da minha inquietação. E que a minha singularidade mora aí, na união de tudo o que eu faço. Por exemplo, uma das minhas atividades paralelas é dar aulas de inglês. E quando eu fui chamada para fazer o teste para participar do longa “Meu Amigo Hindu’, do Héctor Babenco, no qual eu contraceno com o Willem Dafoe, a diretora de casting precisava de atores que falassem inglês. Foi por isso que meu nome foi indicado pra ela. E eu tinha segurança nisso. 

Além disso, no teste, tinha uma indicação de que a personagem cantava uma melodia. O fato de eu ser cantora, também, me deu confiança pra elaborar algo melhor no teste e contou para que o resultado fosse legal e que eu ganhasse o papel.

Cada papel é um recomeço. Um novo preparo, um novo estudo, um mergulho em uma nova identidade. Como é para você viver esse processo e como encara cada novo projeto?

Encaro com o espírito de alegria e excitação de uma criança olhando o mundo. Essa etapa de aproximação do projeto e da personagem , de pesquisa, de estudo, me anima e alimenta demais. Eu gosto de buscar em tudo referências que me aproximem do universo do projeto – na literatura, no cinema, na música, nas artes visuais, nas pessoas nas ruas, nas minhas memórias, nas histórias dos outros; gosto de conversar, de trocar e de viver intensamente essa fase inicial do projeto.

Considera importante que o artista se recicle?

Claro, como qualquer outro profissional. Mais do que isso, acho que é importante que ele se mantenha curioso e preserve seu espírito observador. Tudo é material pra criação do artista, então manter o olhar conectado ao mundo e se nutrir do que está no seu entorno já é um tanto desse trabalho de reciclagem, para além do aperfeiçoamento da técnica.

Do seu primeiro trabalho para cá, como enxerga a sua evolução?

Faz muito tempo que eu comecei e tem uma vida inteira entre o primeiro trabalho e o mais recente, então é até difícil de responder, porque até os parâmetros foram mudando. Eu me transformei, o mundo se transformou, mas talvez a resposta esteja aí mesmo: acho que a transformação é enorme, é constante, e é muito difícil de medir, porque os olhos que olham de dentro também se transformam. 

Talvez seja um grande clichê dizer isso, mas eu não consigo ver a minha evolução como artista separada da minha evolução pessoal, mental, emocional. Tentando ser mais objetiva e dando uma resposta um pouco mais concreta, acho que a diferença que eu consigo perceber mais claramente hoje, em comparação com 20 e poucos anos atrás, é uma espécie de calma comigo mesma. 

A capacidade de respirar em cena, no set, no ensaio, na lida com a profissão, no entendimento de como isso acontece dentro do meu caminho. Eu percebo, sim, a evolução do ponto de vista técnico, de aquisição e desenvolvimento de conhecimento e de ferramentas, embora não pense muito em medir tudo isso e creio que não poderia. 

No entanto, penso que a calma adquirida é a que faz mais diferença no fim das contas, porque ela me me ajuda a estar presente, a abrir minha escuta para o jogo de cena e a abrir espaço para que o novo possa surgir; me ajuda a habitar com mais propriedade cada momento, a me divertir mais, e também a lidar melhor com as falhas, com os fracassos, com os “nãos” da profissão e da vida. Tá tudo muito junto.

Você fez “Meu Amigo Hindu”, com direção de Hector Babenco, onde contracenou com Willem Dafoe. Como foi essa experiência?

Foi uma experiência transformadora, que me ajudou a encerrar um ciclo que já não fazia mais sentido e a começar algo em que eu acreditava. Eu estava vivendo uma fase pessoal intensa e por isso, quando a oportunidade chegou eu estava mais relaxada e consegui levar tudo de forma mais leve e espontânea, sem tanta pressão, e isso fez o processo todo ser maravilhoso do começo ao fim. Tanto o Babenco quanto o Willem eram e são referências importantes na minha vida, desde a infância, e os dois têm uma magnitude indiscutível dentro do cinema, então pra mim foi um presente, uma sorte e uma alegria poder conhecê-los e trabalhar com eles. Estar com o Willem no set, observá-lo trabalhando, me ensinou muito e me acalmou muito, também, como artista. Ele é uma pessoa generosa, inteligente, disponível e muito presente o tempo todo.

Acho que a coincidência de vários fatores: do meu momento de transformação, com a compreensão de tudo o que eu tinha na minha bagagem até ali, com a grandeza em si da experiência de contracenar com o Willem e de ser dirigida pelo Babenco, com a leveza de estar entregue ao processo, foi o que fez dessa uma experiência tão transformadora, que beirou a magia e que me fez mudar meus rumos.

Fiz um movimento grande que durou alguns meses e que me afeta até hoje: pedi demissão da escola onde eu trabalhava na época, saí do meu apartamento, fiquei um mês e meio em Nova Iorque, onde fiz alguns cursos de atuação, voz e movimento e vim pra São Paulo, cidade onde eu nasci, mas não cresci. Estou aqui há 9 anos e sou feliz demais por tudo isso ter acontecido.

Qual foi a sensação de ganhar o prêmio de Melhor Atriz no Festival Cine Paraíso (2017) pelo curta-metragem “Tarântula”, dirigido por Aly Muritiba e Marja Calafange?

Eu adorei! Já fazia um tempinho que o filme tinha estreado, no Festival de Veneza, inclusive, já tinha rodado bastante os festivais nacionais e internacionais, e ganhado vários prêmios em muitas categorias, mas eu não tava esperando por isso. Acho que é um curta que chama a atenção mais por outros elementos do que pela atuação, então não seria um prêmio óbvio pra mim. Mas fico contente, claro, porque significa que me misturei bem ali e ajudei a contar a história. Acho “Tarântula” uma pérola; agradeço por ter feito parte daquela atmosfera toda e me orgulho desse trabalho.

Consegue escolher o que mais gosta de fazer entre teatro, cinema e TV? De que forma enxerga essas três práticas na sua vida e como concilia tantas atividades?

Acredito que a gente tá aqui para aprender, pra se expandir, e é disso que eu gosto. Nem sempre consigo conciliar tudo o que eu gostaria, mas tento. Acho que, para além do meu investimento de energia e foco, o que eu faço tem muito a ver com as oportunidades, também. Às vezes estou mais na música, às vezes no teatro, às vezes no cinema, e quando tenho muita sorte, tenho trabalhos em que posso juntar todas as linguagens. 

Quando eu quis ser atriz, nem pensei sobre a distinção entre uma atriz de teatro, uma atriz de cinema e uma atriz de TV, nem sabia que isso existia. Quando eu era criança, quem queria ser ator ia estudar teatro, mesmo que a referência fosse o ator de novela. E o teatro foi a minha formação principal. Da televisão não vou falar, porque fiz pouco. Entre o cinema e o teatro, cada um tem suas dores e suas delícias e eu amo tudo isso, sou incapaz de abrir mão de um deles para sempre. São abismos diferentes. 

O que eles têm em comum e que me fascina é o fato de necessitarem de muita gente pra acontecer. O teatro tem mais tempo pra criação e aprofundamento, e ao mesmo tempo tem a beleza de ser efêmero, de acontecer no tempo e nunca mais se repetir da mesma maneira. Pra mim, tem mais sofrimento, também. A sala de ensaio é um desafio profundo que sempre me faz me questionar sobre minhas escolhas e minha capacidade. Mas estar no palco com meus colegas me renova completamente e acho mais fácil existir ali, no palco. 

O cinema, por sua vez, tem a magia da espera e da surpresa, do depois. Gosto de estar no set, me sinto bem; gosto de esperar, gosto de repetir, gosto de viver o que se apresenta sabendo que não tenho o menor controle sobre o resultado final, e de trabalhar essa maturidade e sabedoria. Ver o resultado só muito depois, na tela grande de uma sala escura, ao lado de um monte de gente, é muito especial. Já não é parte do trabalho, é outra fruição.

Já te acharam parecida com alguma atriz, artista ou celebridade?

Sim! Fico até com vergonha de dizer, haha! Com a Marion Cotillard, Adriana Esteves, Christiane Torloni, Alessandra Negrini e Alice Braga.

Que personagem gostaria de interpretar?

Não me vem uma personagem específica em mente. Quero variar, conhecer muitos mundos, contar várias histórias. Ver, ouvir e contar histórias de mulheres me encanta. No primeiro ano da pandemia, o Festival de Cinema Varilux apresentou uma versão online que me chamou muito a atenção por trazer uma seleção que incluía muitos filmes com protagonistas femininas, com excelentes histórias, e todas muito diferentes: algumas personagens muito jovens, outras anciãs – uma cantora de ópera, uma mulher aposentada que foge de casa e arranja um amante, uma noviça, uma mãe idosa e uma filha que viaja pra cuidar dela, uma enfermeira na segunda guerra, e por aí vai. Mulheres a um só tempo comuns e extraordinárias contando suas histórias. Grandes personagens são tentadoras, mas as personagens que retratam o comum, o comezinho, são um desafio maravilhoso pra qualquer ator.

Projetos futuros?

Tenho um projeto antigo, muito desejado, que já teve algumas etapas realizadas, contou com algumas colaborações, e vem caminhando a passos lentos no momento, sendo gestado para uma nova fase. É um solo teatral, que conta também com outras linguagens, e que cruza a história de uma personagem clássica da literatura com outra que existiu fora dos livros. Espero poder anunciá-lo em breve.

Equipe de Conteúdo Emplacar Você Produções

 

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